domingo, 15 de julho de 2012

No volante.

Estava dirigindo, indo almoçar com pessoas que ganhei de presente na época da faculdade. Passando em frente de um parque, o guardador de carros que fica por ali ganhando seus trocados, fez sinal para que eu parasse o carro para que outro motorista pudesse manobrar. Não parei. E foi assim o caminho inteiro. Ida e volta. Não dei passagem pra ninguém. Pode ser uma birra de domingo, mas eu simplesmente não estava a fim de deixar as pessoas entrarem na minha frente, assim, sem mais nem menos. Eu fui dirigindo e pensando que a vida é mais ou menos um trajeto que a gente tem que fazer. E quer saber? Cansei de ver as pessoas achando que basta dar um sinalzinho com as mãos, podem passar na minha frente, pegar o lugar que eu queria e ainda por cima, chegar primeiro. Eu sempre pensei: "Relaxa Tatiana, sua hora vai chegar! O que tiver que ser seu, vai ser!". Mas convenhamos que esse papinho todo é consolo, é desculpa que damos para nós mesmos quando as coisas não dão certo. Relaxada eu estou, disso você pode ter certeza, mas a minha hora... ah... a minha hora é agora. E eu não vou aceitar nada que me faça sentir que meu relógio está atrasado, que eu estou em segundo plano. Nada que me sugue a energia e depois me cuspa. Nada que me deixe culpada e depois passe a mão pela minha cabeça. Eu continuo sendo boa. Boazinha eu parei faz tempo. Eu continuo sendo gentil com o mundo lá fora. Dizem que é dando que se recebe. Mas eu cansei de sempre começar nessa brincadeira. Sempre ser aquela que cede, que entende e finge não se importar. Pois então, você quer? Me dá primeiro. Não é porque sou doce e educada na maioria das vezes, que você tem o direito de achar que tenho que ser assim o tempo inteiro. Eu não quero sua cara a tapa, porque não sou de violência. Nem do tal UFC eu gosto. Não me rendo a qualquer modinha e você sabe. Me dá a mão, um abraço, uma piada, uma companhia num dia lindo, um ato de confiança e nem precisa esperar por muito tempo a recompensa. Sempre fui a favor da reciprocidade e não é agora que será diferente, embora tanta coisa esteja mudando. Eu não quero nada complexo. Nunca quis. Perco a paciência com quem não consegue enxergar a simplicidade das coisas e com quem fica imaginando a minha vida por mim. Me deixa aprender a lidar com os fatos, porque eu estou melhorando nisso. E o fato agora é que eu não vou parar pra você passar, eu não vou me deixar pra depois. 


O amor também é isso, um trajeto, um dirigir num domingo à tarde. A gente não dá passagem pro amor porque o amor está no banco do passageiro. A gente só para o carro pro amor entrar ou ir embora. Caso contrário, se a gente parar, a gente se perde, metade do amor enfraquece. O tal do amor próprio - aquele que nos faz pulsar de verdade. E com metade do amor enfraquecido, fica difícil amar as pessoas que amamos. Tentamos dividir a outra metade nos tornando injustos com a gente mesmo o com os outros. Um amor pela metade é como andar com um fantasma no banco do passageiro. Um amor pela metade é bem pior que andar sozinho no carro, com o som alto e o coração inteiro, passando por faróis verdes, pensando que você não ta a fim de dar passagem pra ninguém que não lhe dê nada em troca. 
*
Nos dirigir é tão importante quanto o próprio destino. 
Sem caminho não existe a hora certa. A hora certa é o caminho.

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns que lindo texto, me empolgo, na leitura de seus textos, PARABÉNS MAIS UMA VEZ,