segunda-feira, 14 de maio de 2012


O que se passa e o que fica.

Dia das mães passou e eu tenho uma história triste para contar. Tenho uma vizinha que foi abandonada pela filha que mora num bairro ao lado. O abandono aconteceu porque minha vizinha não queria sair da própria casa e ir morar com a outra filha que mora em MG. Ela se chama Odete (e ás vezes fazemos o trocadilho com omelete - sem que ela saiba), tem .. anos e está ficando um pouco debilitada devido a idade. Não tem forças para andar direito e enxerga mal. Ela gosta de ver futebol, mas esses dias comentou com minha mãe que decidiu ir dormir cedo, antes de começar o jogo. Na verdade, ela sabe a hora que minha mãe chega em casa e fica próxima ao portão para conversar um pouco, já que mora sozinha e não recebe mais a visita dos parentes.

Semanas atrás ela estava empolgada, pois a filha de MG iria visitá-la, até pediu para a buscarmos na rodoviária, mas a filha ligou e disse que não queria gastar 400 reais para vir a São Paulo. Não denunciamos as filhas porque ela seria mandada para um asilo, e essa é a última coisa que ela quer. Os vizinhos ajudam, a única cunhada dela também e ela vai vivendo.

Certo dia, minha mãe entrou em sua casa e ficou impressionada ao ver como o guarda roupa e os porta retratos eram antigos. Segundo minha mãe, dona Odete, como a chamamos, pegou o porta retrato com a foto do casamento dela nas mãos e começou a dizer: “Sabe Luiza, a moça que fez meu vestido de casamento também se chamava Luiza. Foi tão difícil na época, tudo era tão caro. Esse porta retrato eu paguei em três vezes. Eu sempre olho para essa foto minha e do meu velho. Ás vezes eu estou aqui sozinha, ai eu pego o porta retrato e falo com ele: ‘A meu velho, você me faz tanta falta, mas eu sei que eu não estou sozinha, sei que você está comigo’ e dou um beijo na foto”.

Esse ano foi o primeiro dia da mães que ela passou sem alguma das filhas. Ela disse que queria muito almoçar fora, então pediu a cunhada que a levasse, mas a cunhada disse que almoçaria com a filha, o namorado e a sogra da filha. Então, ela pediu a minha mãe que comprasse nhoque para ela. Tudo que ela pede, ela faz questão de pagar, mas, ás vezes damos coisas sem que ela peça e ela fica bastante grata, mas só aceita se realmente for necessário para ela.

Desde quando mudamos, nos avisaram que ela era encrenqueira e ela foi um pouco mesmo, implicou com as crianças na rua, implicou quando reformamos a casa e sempre foi daquele tipo super sincera que fala na sua cara que você engordou. Não sei como ela era com as filhas, não cabe a mim julgar, mas acho triste o abandono, a solidão, essa situação no geral. Talvez até mais que triste, me faltam palavras.

Por isso, nesse dia das mães, vale refletir nas coisas que estamos plantando agora, nos sentimentos, na maneira como tratamos as pessoas e no valor que damos a elas, principalmente em quem nos criou e também é parte do que somos.


Isso é tudo.

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