quinta-feira, 3 de maio de 2012

A montanha.


Estou lendo um livro que, ás vezes me deixa em outra altitude. “No Teto do Mundo” conta sobre algumas expedições de Rodrigo Raineri e seus parceiros, entre eles, Vitor Negrete. Por ser uma história real, me sensibiliza ainda mais. Quando vejo, estou me colocando no lugar deles, naquelas situações e me perguntando o que eu faria. Difícil saber. Quase sempre que isso acontece, opto por não chegar a uma conclusão.

Ontem li o trecho em que Vitor Negrete morre dentro da barraca, na volta depois de ter conquistado ao cume no dia 18 de maio de 2006. A morte nunca será uma coisa que iremos digerir facilmente, já até escrevi sobre isso aqui, mas depois de ter lamentado em cada palavra que descrevia esse momento e que eu lia, eu comecei a me sentir feliz pelo Vitor. Sabe por que? Porque ele viveu com coragem. Porque ele alcançou o que queria. Melhor morrer fazendo algo grandioso do que viver durante anos cheios de medo, medo de altura, medo da água, medo de gente, medo de andar sozinho, medo de fazer uma trilha, de andar de barco, de saltar na tirolesa, tantos medos bobos que só servem de desculpa para nos limitarmos ou ficarmos na zona de conforto... 

Não que tenhamos de ser destemidos, pois o medo é importante para que possamos equilibrar nossa relação homem-mundo e para manter nossa confiança numa zona de realidade. Mas tem tanta gente por ai com uma descrença tão grande em si mesmo. Tanta gente por ai que diz acreditar em Deus, que tudo acontece na hora certa e blá blá blá, mas que não se arrisca em nada, com medo. Gente que quer colocar o próprio medo em você, baseado em experiências imaginárias ou de outras pessoas, dizendo “olha é perigoso”, “como você tem coragem?”, “cuidado”, “ouvi dizer que fulano foi e se deu mal...”. A preocupação se confunde com o medo e um ligeiro egoísmo em não deixar as pessoas das quais sentimos apreço não se arriscarem. Precisamos ficar atentos.

Acredito que querer o bem, não é impedir o outro de alcançar algo, por mais alto que for. Todos os anos, alpinistas tentam alcançar o cume de diversas montanhas pelo mundo, muitos devem estar escalando ou dormindo num acampamento base enquanto você lê esse texto. Uma aventura que desafia os extremos do corpo e da mente. É preciso ter uma relação muito boa e verdadeira consigo mesmo. Por isso, fiquei feliz pelo Vitor, por entre tantas escolhas, ele ter optado em chegar onde queria. Se poderia ter sido diferente? Se ele poderia ter voltado para casa? Eu tentei pensar nisso e preferi parar, preferi só admirar a tragetória, a coragem e a conquista.

Cada um sabe o que é seu próprio Everest. Não cabe a nós, julgarmos as escolhas alheias, baseados em nossos medos.



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