segunda-feira, 4 de julho de 2011

infinitos aeroPORTOs.
(00:32am). Segunda-feira com sensação de que ainda é domingo. Eu, que andei economizando palavras, me policiando pra não me escrever inteira, me privando do drama e da lama, resolvi ligar o computador pra escrever. (Sou assim, tem dias que gosto de rascunhos no papel, outros dias prefiro o som das teclas. Sim, podemos realizar o mesmo objetivo de maneiras diferentes, mas isso não vem ao caso – não hoje). A questão é que eu chorei agora pouco assistindo ao programa “Chegadas e Partidas” no GNT (essa TPM ainda acaba comigo com tanta sensibilidade!). Fazendo um calculo sem sentido com minha idade e a qauntidade de lugares que temos para conhecer, chego a conclusão de que viajei pouco, sou tão pequena diante dessa coisa chamada Terra, mas tenho certa segurança em dizer que um dos lugares mais incríveis do mundo se chama aeroporto. Para muitos, não é considerado a melhor parte da viagem, mas nem por isso deixa de ser essencialmente incrível (outros dizem que a melhor parte da viagem é o caminho que te leva até lá). Imagine um lugar cheio de histórias, com milhares de vidas que se cruzam, se conectam, se esvaem, depois se reencontram – ou não. Lugar cheio de saudade, de desejo, de vontade... Imaginou? Sei lá, aeroporto é mais que isso. Quando voltava ao meu porto seguro, depois de uma experiência em um cantinho que falava coisas em outro idioma do qual muitas vezes eu fiquei sem entender, na conexão de Washington - Brasil eu conheci um cara que iria reencontrar o pai depois de dez anos. (Dez anos? Toda vez que me recordo disso eu penso: “Minha nossa, dez anos é muito tempo!”). Conheci a menina que ficou longe de casa por três anos e depois de ter aprendido bastante, voltava com um bichinho de pelúcia nos braços, assim como eu. Conheci a moça que me contou como conheceu seu marido no exterior, sendo que ele morava na mesma rua da avó dela e eles nunca tinham de visto. Conheci a avó que foi viajar para visitar os netos e contava histórias engraçadas das quais tinha vivido. Foi no aeroporto que eu encontrei um funcionário da companhia aérea que falava português com um sotaque estranho quando eu estava nervosa e chorando por ter perdido vôo. O programa da GNT mostrou mais algumas histórias. A do pai que viajou pra conhecer a filha recém nascida, do cara que esperava o marido do qual é casado por dez anos, da menina que esperava a chegada e algo mais de um amigo que só conhecia através da internet (mas ele não apareceu), da mãe que aguardava a filha ansiosamente no portão de desembarque errado. Vendo tudo isso eu descobri, que melhor do que ir por um bom motivo é ter a certeza de que quando voltar alguém estará te esperando de braços abertos e uma saudade linda embalada num sorriso. (Existe combinação mais gostosa do que abraço e sorriso?). Eu já dormi – ou pelo menos tentei – num aeroporto (e não foi esse dia do vôo perdido) e tive muito tempo para observar a quantidade de pessoas que por ali passavam. Ficava me perguntando o quanto aquele lugar fazia parte da vida delas. Férias? Trabalho? Sonhos? O que elas estavam deixando ali naquele aeroporto antes de partir? O que elas deixaram para trás para estar ali? São tantas possibilidades e tipos diferentes de saudades (E quem aqui consegue explicar o que é saudade? Coisa boa ou ruim? Vai saber.) que a matemática seria incapaz de contar. Chegadas e partidas infinitas. Aeroporto é um lugar tão importante que todos temos um dentro de nós, não importa se você é rico, pobre, curte uma boa aventura ou é do tipo mais caseiro. Nós voamos e aterrissamos o tempo inteiro. Pelo menos, eu sou assim. Tem dias que saio de mim, busco o que eu não sei definir, faço experiências ás vezes arriscadas com o que sinto, faço planos imperfeitos e sonho acordada pra ver se vivo aquilo que sonho. Mas gosto de dormir em “casa”, em paz, no meu porto seguro. Nas noites de insônia, eu preciso de um guincho pra me levar de volta á minha origem, pra me tirar o medo, a raiva, a agonia e me deixar outra vez no ponto de partida.  Como diz a música “Coisa que gosto é poder partir sem ter planos, melhor ainda é poder voltar quando quero”. Ah... Milton Nascimento quando esse verso da canção, já sabia. Sabia tudo que eu quis dizer com esse texto. Sabia que "todos os dias é um vai e vem e que a vida se repete na estação". Sabia que nossa vida é um eterno revezamento de encontros e despedidas. Se eu pudesse resumir a vida num lugar, ali seria. Não simplesmente um porto, mas um porto que pudesse voar e chegar e depois partir, e voltar... Mas a verdade é que a vida não se resume, nem as histórias, nem as pessoas... “E assim, chegar e partir são só dois lados da mesma viagem. O trem que chega é o mesmo trem da partida. A hora do encontro é também despedida. A plataforma dessa estação é a vida desse meu lugar, é a vida...” . (1:53 am)

Aviões, trens, ônibus, carros, bicicletas... o meio de transporte pouco importa nessas horas, o importante mesmo é a bagagem que você leva no coração.

Beijos.


2 comentários:

Vivian Almeida disse...

Oi Tati. Fazia um tempinho que eu nao passava por aqui diante de toda a correria atual. Preciso dizer novamente que você escreve muito bem. Não apenas escreve, mas organiza, explicita, exemplifica, tudo que uma forma incrível. Parabéns mais uma vez. Também assisti ao mesmo programa domingo e também chorei (sem TPM rs). Sempre choro ao assistir Chegadas e Partidas - mesmo não gostando muito da Astrid. Primeiro por que mesmo fingindo ser forte eu sou boba e emotiva, segundo por que me lembro da minha irmã. Lembro do dia que ela foi morar em Buenos Aires e do primeiro período de férias no Brasil. Eu estava no aeroporto exatamente como aquelas pessoas estavam, num misto de ansiedade, felicidade e lágrimas. Voltando ao programa deste domingo, achei meio louca a relação daquela mãe com a filha (até por que trabalho com saúde mental infantil e vejo a loucura que as mães fazem mesmo sem querer). E fiquei tão triste quanto aquela moça que esperava o tal "amigo" que não chegou. Ahhh, sabe que parei de levar minha irmã ao aeroporto? É muito sofrimento levá-la a cada vez que ela volta para Buenos Aires. Resolvi, de certa forma, "fugir" deste "partir"...rsrs. Beijos.

Vivian Almeida disse...

Oi Tati. Fazia um tempinho que eu nao passava por aqui diante de toda a correria atual. Preciso dizer novamente que você escreve muito bem. Não apenas escreve, mas organiza, explicita, exemplifica, tudo que uma forma incrível. Parabéns mais uma vez. Também assisti ao mesmo programa domingo e também chorei (sem TPM rs). Sempre choro ao assistir Chegadas e Partidas - mesmo não gostando muito da Astrid. Primeiro por que mesmo fingindo ser forte eu sou boba e emotiva, segundo por que me lembro da minha irmã. Lembro do dia que ela foi morar em Buenos Aires e do primeiro período de férias no Brasil. Eu estava no aeroporto exatamente como aquelas pessoas estavam, num misto de ansiedade, felicidade e lágrimas. Voltando ao programa deste domingo, achei meio louca a relação daquela mãe com a filha (até por que trabalho com saúde mental infantil e vejo a loucura que as mães fazem mesmo sem querer). E fiquei tão triste quanto aquela moça que esperava o tal "amigo" que não chegou. Ahhh, sabe que parei de levar minha irmã ao aeroporto? É muito sofrimento levá-la a cada vez que ela volta para Buenos Aires. Resolvi, de certa forma, "fugir" deste "partir"...rsrs. Beijos.