A loucura
Você acorda, demora para abrir os olhos. Quando vê, está no caos, apertada no ônibus que não anda. Quando vê, está no caos do metrô. Você pensa em sentar no chão e esperar o incômodo passar. Ameça fazer isso encostando por alguns minutos na parede, mas olha pro relógio e percebe que ainda resta um pouco de consciência. Você nem consegue entrar com o pé direito no vagão depois de 40 minutos de espera. Você chega atrasada, com uma cara que denuncia a alma. Cara de quem "não comeu" e não gostou. Não consegue se concentrar, não consegue lembrar do que tem para fazer, do que tem pra hoje e nem achar um texto decente para o dia da mulher. Você ganha bolo do desconhecido, um abraço do amigo e um cara estranho te passa uma cantada barata- de novo - e pede seu telefone. Você pensa em ser louca. Só um pouquinho vai?! Aproveitar o carnaval - que por sinal, você não gosta - pra jogar os confetes pro alto. Pra jogar tudo pro alto. Ai se você fosse louca suficiente... Você bateria na porta da casa dele ás 23h30, o beijaria e iria embora. Você travaria uma briga feia com sua chefe. Você diria pro motorista do ônibus Ana Rosa melhorar aquela cara de bosta dele. Você não usaria o guarda-chuva, mesmo ficando com uma puta dor de garganta. Você diria para aquele seu tio que ele é chato pra caralho e que você não pediu opinião. Você se daria um murro, porque pelo menos haveria uma explicação para essa dor. E você riria bem na cara das pessoas que fazem papel de idiota. Ah... se você fosse louca suficiente... Mas você não é. Então você tem que acordar, sorrir, não se espantar, não espantar. Você tem que ser forte, levantar, sacodir a poeia e dar a volta por cima. Você tem que gostar de carnaval, tomar um porre na festa dos amigos e ser educada com os familiares. E mesmo que digam que você é louca, você não pode provar. A loucura tem que ficar aí, toda guardada dentro de você, pra você enlouquecer sozinha.
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