quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Bonequinhas vivas (luxo grátis)


"Não tenho nada a ver com explosões, diz um verso de Sylvia Plath. Eu li como se tivesse sido escrito por mim. Também não faço muito barulho, ainda que seja no silêncio que nos arrebentamos.
(...)
Me aceito impura, me gosto com pecados, e há muito me perdoei. 
Meu mundo se resume a palavras que me perfuram, a canções que me comovem, a paixões que já nem lembro, a perguntas sem respostas, a respostas que não me servem, à constante perseguição do que ainda não sei. 
Meu mundo se resume ao encontro do que é terra e fogo dentro de mim, 
onde não me enxergo, mas me sinto. 
Minto, tenho tudo a ver com explosões."

(Martha Medeiros)


Passam-se décadas e elas conseguem ser tão grandiosas como uma fotografia preto e branco. Cheias de simples detalhes. Um glamour que dispensa diamantes ou outra jóias qualquer. Olhe nos olhos delas. Elas fingirão timidez - talvez até pra si mesmas - mas brilharão por dentro fazendo a alma se despir. Elas brilham na sua cara, sem querer - ás vezes querendo - e você vai adorar.  Incertas. Cheia de pecados. Perdoadas por si mesmas. Elas escondem o excesso, mostram o mistério. No final das contas, é um verdadeiro desperdício se esconder, elas sabem. Várias, misturadas, num só ser. Um strip tease que vai muito além de tirar peças de roupas, como se o espelho não julgasse e a sociedade não condenasse. Mas o efeito é o mesmo. Você descobre segredos. Um som estranho quando elas riem, uma marca de nascência, uma celulite linda em alguma parte da perna, uma careta ocasional, uma obcessão por outros lugares. Apreciam bons modos. Elas deixam a Barbie com baixa autoestima. São edições limitadas - na verdade, únicas - sem muitos limites. Elas te fazem propostas indescentes, como por exemplo, comer brigadeiro de panela numa sexta a noite ou, quem sabe, se apaixonar. Elas já pensaram em desistir, em revidar, mas não podem se vingar de si mesmas. Elas já pensaram em ser boazinhas, mas preferem ser boas. Elas preferem ser.


Essa semana o filme "Bonequinha de Luxo" completou 50 anos. O filme conta a história de uma bela jovem independente e festeira, que ganha atenção de homens influentes nova-iorquinos sem envolver-se emocionalmente, até encontrar um escritor quebrado, por quem acaba se apaixonando. Um clássico que todos deveriam assistir. Um clássico que se repete durante anos. Todo o charme de Audrey Hepburn como Holly se repete em vários rostos, com outros desejos, outros desapegos e outras curas. As nossas alegrias e sofrimentos tão luxuosos, se mantém.
Caso você se questione porque me refiro a "elas" no texto acima, é simples. Elas, bonecas com vida própria - nem sempre luxuosas. Também elas, que eu encontro no espelho (onde, ás vezes, algumas coisas se transformam como mágica).

beijos luxuosos.

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