terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Eu (e) estive pensando...

Depois de estar comigo tantas vezes no trajeto casa-trabalho-casa, ele morreu em minhas mãos, no fim da tarde de uma terça-feira, onde minúsculas gotas de chuva pingavam sob suas últimas palavras sem intenção de molhá-las, como se fossem lágrimas. Me pareceu uma morte mais justa. Agora eu reconhecia suas formas, ou  ao menos seus traços. Foi quase surpreendente. Eu estaria mentindo se dissesse que nunca esperei por isso. Mas, contraditoriamente, eu nunca o vi morrendo. Mesmo sem forças, ele estava mais vivo que muita gente saudável que eu encontro por ai. Talvez seja por isso que bem antes do terceiro dia, ele tenha ressuscitado num pedaço de maçã. Exagero meu? Pode ser. Mas a loucura é um pouco exagerada e é assim, com um pouco dessa loucura, que se move o mundo. Quando o mundo disse que ele havia morrido eu sabia que ele era parte de uma história, mas não tinha ideia que eram tantas histórias. Eu não tinha ideia. Hoje eu começo a entender a importância de tudo, a ligação entre as coisas e o poder que isso pode causar. Essa tal experiência. Saber o que eu soube, ler o que eu li e sentir o que eu senti (muitas vezes uma confusão pela rapidez que as coisas acontecem), me fizeram enxergar que eu sempre tive alguns valores bem certos dentro de mim e isso nunca me impediu de modificar o resto das coisas. Fizeram com que eu me sentisse mais humana ao invés de me sentir como o personagem de Charles Chaplin em Tempos Modernos. E falando nisso, agora eu até vejo "uma vida melhor no futuro, eu vejo isso por cima de um muro de hipocrisia que insiste em nos rodear". Eu deveria citar Bob Dylan ao invés de Lulu Santos. Eu deveria... Mas assim como tudo que escrevi, não somaria em nada uma vida que acabou, ou que, de algumas formas, irá permanecer. Ele não necessita de qualquer representação de si mesmo. Dispensa cores, imagens e firulas. Ele conseguiu ser muito maior que isso - eu não sei muito bem até onde vai isso tudo. Ele conseguiu alcançar a grandiosidade da simplicidade, em cada detalhe, como um retrato preto e branco. Ele simplesmente pensava diferente. Recentemente escrevi um texto aqui no blog que dizia "quando tudo é comparado a nada...". Eu estive pensando. Acho que era assim que ele criava as coisas e recriava suas ideias. Enquanto nós comparamos um modelo de sofá com outro e escolhemos o que mais nos agrada, ele optava em só comprar móveis que realmente lhe agradassem e por isso sua casa, quando jovem, era praticamente vazia.




{"A intuição é uma arma muito poderosa, mais potente do que o intelecto, na minha opinião. Isso teve uma grande influência sobre meu trabalho"
(...)
"Durante a maior parte de minha vida achei que deve haver algo mais na nossa existência do que aquilo que vemos". (...) "É estranho pensar que a gente acumula tanta experiência, talvez um pouco de sabedoria, e tudo simplesmente desaparece. Por isso quero realmente acreditar que alguma coisa sobrevive, que talvez nossa consciência perdure."
Ficou em silêncio por algum tempo. "Mas por outro lado, talvez seja apenas como um botão de liga-desliga", prosseguiu. "Clique! E a gente já era."
Fez outra pausa e sorriu de leve. "Talvez seja por isso que eu jamais gostei de colocar botões de liga-desliga nos aparelhos da Apple."}
- Steve Jobs 
por Walter Isaacson


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2 comentários:

Anônimo disse...

Talvez seja por isso que você não tenha um botão de liga-desliga, hein Tati?

Talvez seja por isso que sua "casa", o lar que tanto procura aí dentro, esteja praticamente vazia...

Talvez, só talvez, devesse realmente morrer, para entender o quanto é necessária para o mundo.

Bjão.

Danilo disse...

!..Caramba arrepiou mesmo este texto, já estsava pra ler este post já fazia um tempo, então só agora que consegui, e valeu a pena. Ao meu entender, acho que todos nós em certa altura das nossas vida, precisamos morrer dentro de nós mesmo, para renascer de uma forma melhor. Meio paralelo ao que você descreve, mas como não quero morrer de verdade para então perceber minha importância rs..acho que um "suicidio" interno, pode nos resgatar algo que pode estar adormecido ou algo novo..AMEI o texto..! [continue escrevendo que eu continuo lendo]