terça-feira, 13 de março de 2012

Ser normal
... e Diário do palhaço - Vol 2.


- Por que fazer isso?
- Por que não fazer?


Começo a entender quando dizem que a vaidade é um pecado capital. A vaidade é ser cobiçado, admirado e estar de acordo? É isso? Aparentemente inofensiva, mas quando nos damos conta, somos reféns. Exagero meu? Então me explica: me explica o motivo de você querer parecer tão normal. Você não. Nós. Nós que paramos de usar aquela calça velha que nós amamos porque saiu de moda. 


No último sábado fui assistir Família Adams, uma comédia musical da Broadway, agora no Brasil com ótimo elenco. Recomendo. Fiquei encantada com a maneira que eles tratam a "normalidade" na peça. Tio Chico canta "O que é normal não se sabe bem... Os filhos são loucos e os pais também...". Em determinado momento, a filha, Wandinha, pede a família para que finjam ser uma família normal. "A normalidade é uma ilusão querida, o que é normal para a aranha é uma calamidade pra mosca!" - responde Mortiça. Alguém discorda da mulher sombria, de cabelos longos, decote e movimentos delicados? Eu não. Eu ri quase como forma de aplauso. A Mortiça tem muito de algo que todos nós deveríamos ter. Ela sabe muito bem quem é para perder seu tempo explicando isso para outras pessoas. Com uma vaidade que não estraga, não se importa e a faz normal de um modo mais real.


Hoje resolvi testar a normalidade das coisas, desafiar a mim mesma. Claro que a Oficina de Clown tem papel fundamental nisso. Hoje testei o nariz de palhaço pela primeira vez. Como a maioria das coisas novas, o nariz também trouxe certo desconforto de início, incômodo, um não saber o que fazer. Depois pude perceber um pouco do que aquilo significa. Quase como um cartão verde, um passe livre: não pense, seja o que quiser. Mais uma aula terminou. Deixei o nariz vermelho pendurado no pescoço, ainda não queria tirá-lo de mim. "Tenho que me desprogramar pra não pensar" - pensei enquanto caminhava até o metrô. Coloquei o nariz de volta ao rosto na estação e assim fui até meu destino. Por volta de 40 minutos, sorrindo e calada - exceto quando três pessoas vieram me perguntar se tinha algum motivo por eu estar fazendo aquilo. Não sabia nem o que responder direito. Sem muitos pensamentos, sem riso de desespero. Apenas ali. Em nenhum outro lugar, apenas ali com o poder de um nariz vermelho. Com vontade de interagir, mas ainda não preparada. Contudo, me sentindo a pessoa mais normal do mundo.

*

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom o texto, ser normal não tem graça, ser você mesmo e fazer o que tem vontade isso sim tem graça, a vida é curta demais para seguir roteiro.
Parabéns Tati .. texto muito bom e muita coragem com o nariz de palhaço ein, queria ter um pouquinho dessa mesma

Fabio

Ludmila Melgaço disse...

Uma boa experiência antropológica! rs
Fiquei lembrando da tal música: "Mas louco é quem me diz e não é feliz..."

Amei!